Laboratório de última geração pode levar o Brasil à liderança da pesquisa de novos materiais

Uma vantagem na corrida tecnológica

por Roberto Rockmann — publicado 15/11/2014 06:37
Eur Asia Press / AFP

lampadaUm projeto poderá melhorar a posição do Brasil no mapa da inovação no mundo. O País corre para colocar em operação um equipamento com potencial de criar um novo paradigma na área e atrair cérebros do mundo inteiro. Trabalha-se para o primeiro feixe de luz do síncrotron de última geração entrar em funcionamento em 2018, no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, no interior de São Paulo, integrante do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais. Primeiro no Hemisfério Sul, o equipamento conta com tecnologia inovadora com um único rival, em montagem na Suécia. “Várias melhorias estão programadas para os de terceira geração em operação no mundo, mas esse nosso projeto é mais avançado e posiciona o Brasil no mapa dos equipamentos sofisticados, com potencial de atrair trabalhos e cérebros”, diz o diretor do laboratório, Antonio José Roque da Silva.

O aparelho é formado por um conjunto de instrumentações científicas que permite a aplicação de raios X e raio ultravioleta em estudos de materiais, com possibilidade de testar sua resistência. O potencial de usuários do equipamento é amplo e inclui as indústrias de óleo e gás, mineração, aço, cimento e petroquímica, entre outras. “Temos conversado com algumas empresas do setor de óleo e gás, há possibilidade de financiamentos em parceria com empresas”, explica. O projeto sofreu alterações recentes para incorporar novas tecnologias e tornar-se ainda mais sofisticado e atualizado. Isso dobrou o seu custo, estimado inicialmente em 650 milhões de reais. Pretende-se iniciar parte das obras civis neste ano.

O prazo está diretamente ligado ao fluxo de caixa do projeto, hoje vinculado ao Orçamento-Geral da União, dependente da política fiscal do governo federal. Em caso de ajustes por necessidade de obter maior superávit primário, o governo pode reduzir os recursos previstos para o projeto. “Essa possibilidade preocupa”, comenta um empresário da área de inovação de uma grande empresa.

Há parcerias entre a iniciativa privada e o governo. A cada ano, as consultas de pequenas, médias e grandes empresas ao Laboratório Nacional de Biocências, também integrante do CNPEM, crescem acima de 10%. Recentemente, o laboratório participou de uma rodada do programa Inova Saúde, do governo federal. Nesse encontro, a ColOff, que atua na coleta de amostras para exames clínicos, firmou parceria com o LNBio para desenvolver um novo produto, útil nos atendimentos de emergência, entre outros. Nos prontos-socorros, diante da dificuldade de saber se a diarreia foi causada por vírus, bactéria ou vermes, muitos médicos receitam antibióticos. A ideia da ColOff é elaborar um kit com marcadores de bactérias, vírus e protozoários para detectar mais rapidamente o problema. Sem estrutura de pesquisa e desenvolvimento, a saída da pequena empresa foi procurar a estrutura do LNBio e firmar um acordo.

Em 2011, o laboratório fez uma parceria com a fabricante de cosméticos Natura, passo importante para a constituição do laboratório de bioensaios, utilizado para testar grandes quantidades de moléculas importantes no desenvolvimento de novos cosméticos e medicamentos, muitas delas encontradas no ecossistema amazônico. Foi o primeiro laboratório desse tipo na América Latina. O investimento já produz frutos. “Com essa estrutura, conseguimos repatriar um grupo de pesquisadores que trabalhavam na Coreia do Sul com doenças negligenciadas como a doença de Chagas e a malária”, ressalta Kleber Franchini, diretor do LNBio.

Esses são exemplos da ampliação do espaço da inovação nas agendas corporativa e do governo. O investimento realizado pelo Brasil em ciência e tecnologia chegou, em 2012, a 1,74% do Produto Interno Bruto, o maior nos últimos 12 anos. O governo é o principal responsável pelos investimentos e responde por 52,37% do total. Segundo a mais recente Pesquisa de Inovação realizada pelo IBGE, 0,71% do faturamento líquido das empresas brasileiras entre 2009 e 2011 foi destinado à pesquisa e ao desenvolvimento, número 0,09% superior ao registrado em 2008.

O investimento brasileiro ainda é baixo em comparação com países avançados. No Japão e na Coreia do Sul, as empresas privadas investem mais de 1,5% do PIB em inovação. No entanto, os dados brasileiros devem ser relativizados. Perto de 60% a 70% dos investimentos mundiais privados  estão relacionados a dois setores, os de eletroeletrônica e farmacêutica, com pouco peso na matriz industrial nacional. Há mudanças no horizonte. O setor automotivo, com 4% de participação em inovação privada no mundo, triplicou sua fatia e deve elevar ainda mais sua parcela. “A eletrificação e o veículo híbrido são novas fronteiras”, diz o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Nesse caso, a agenda é criar condições para as subsidiárias terem papel ativo na obtenção de mandatos de desenvolvimento de produtos. Nesse contexto, o governo federal lançou o Inovar Auto, novo e bem-sucedido regime para promover a competitividade da indústria automotiva nacional.

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