Prefeitura quer identificar polos de economia criativa em Porto Alegre (RS)

Economia_criativa

Em 2013, a prefeitura de Porto Alegre lançou o Plano Municipal de Economia Criativa, que estabelece diretrizes para incentivar este nicho. O Gabinete de Inovação e Cultura (Inovapoa) está trabalhando, junto a representantes de várias instituições, no mapeamento dos “focos” de economia criativa em oito regiões.

— Queremos ver, por exemplo, que bairro da cidade tem um polo mais voltado para a gastronomia, onde estão sendo pensados e desenhados produtos de moda, qual a área mais bacana para manifestações culturais — exemplifica a secretária do Inovapoa, Maria Fernanda Bermúdez.

Depois deste levantamento é que serão pensadas as políticas públicas que devem estimular os talentos criativos a permanecerem em Porto Alegre. Cogita-
se, por exemplo, a isenção de IPTU por três anos. É um desafio: como ainda se observa muita evasão desses talentos para São Paulo e Rio (ou mesmo para o Exterior) em busca de oportunidades para se destacarem, a cidade precisa se diferenciar.
Conforme o economista Leandro Valiati, Porto Alegre, por ser uma cidade de serviços, tem uma forte vocação para desenvolver novos canais de mercado.

— Além disso, é uma capital que ainda não tem os graves problemas das grandes capitais. Tem um ritmo mais tranquilo em relação aos grandes centros — destaca o professor.

Bairrismo pode contar a favor

Uma ampla rede de universidades, cujas pesquisas podem ajudar a embasar os projetos criativos, também dão força para Porto Alegre se estabelecer como cidade criativa. Muitas vezes motivo de piada, o bairrismo pode ser considerado um potencial.

— Eu queria pensar em formas de contribuir com a cidade em que nasci e cresci, e a qual quero ver cadavez melhor — diz a engenheira civil Cláudia Chaves, uma das empreendedoras incubadas no Tecendo Ideias, centro projetado pela prefeitura e concretizado pelo IPA no antigo prédio da Renner, perto do DC Navegantes.

Cláudia quer reaproveitar aparas de papel descartadas para desenvolver produtos sustentáveis. Seus colegas de escritório incluem o engenheiro Cezar Reinbrecht, que trabalha na implementação de um sistema de aluguel de carros elétricos aos moldes do BikePoa, e a dupla formada pelo atleta Rafael Silva e pelo designer de moda Matheus Bittencourt — que produzem camisetas integralmente em Porto Alegre, do traço do desenho à fabricação. Rafael afirma:

— Em vez de ostentar algo de fora, queremos que o que é feito aqui seja motivo de orgulho.

Pertencimento e valorização são características da economia criativa

Projetos em economia criativa aproximam cidadão e cidade, fortalecendo a sensação de pertencimento — e a vontade de ficar. O professor da Escola de Negócios da PUCRS e consultor empresarial Jorge Elias acrescenta:

— É preciso dar oportunidade para que as pessoas trabalhem com o que se identificam, se sintam respeitadas e valorizadas. Ela pode não ser a mais rica, mas vai sentir prazer na vida.

Foi o caso da empresária Barbara Mattivy. Dois meses antes de ir para o Canadá, onde trabalharia em uma revista de moda, ela e uma amiga criaram uma marca de sapatos cuja matéria-prima são tecidos de roupas garimpadas em brechós. O negócio começou a dar certo quando ela já estava em Toronto. Pediu demissão da revista e passou a dedicar-se ao e-commerce da empresa.

— Chegou uma hora em que decidi voltar e abraçar este filho — conta ela, que inaugura sábado a loja própria da Insecta Shoes.

Em Porto Alegre, Barbara vê a vantagem de estar próxima da família e de um polo calçadista — Novo Hamburgo, onde os sapatos são produzidos. Embora o maior público da Insecta seja São Paulo, o que torna mais altos os gastos com envio e distribuição, ela enxerga na capital gaúcha o mesmo potencial criativo da paulista:

— Tem muitos movimentos nesse sentido. No Canadá, soube de um serviço inédito de entrega de cestas de produtos orgânicos. Cheguei e isso já existia aqui.

Economia criativa dá mais vida às cidades

A ideia de economia criativa está ligada à economia colaborativa — uma tendência mundial iniciada com a consolidação dos serviços de banda larga.

— Em um ambiente compartilhado, aumenta a eficiência do uso dos recursos, trabalha-se com a democratização do acesso e se estabelece uma relação muito forte de troca e confiança — comenta o especialista em economia colaborativa Tomás de Lara, cogestor do Sistema B, movimento de empresas que busca soluções para problemas sociais e ambientais.

Oferecer soluções às cidades, aliás, é o mote da economia criativa. O economista Leandro Valiati dá o exemplo da orla do Guaíba: um insumo belíssimo para Porto Alegre se estabelecer como polo criativo, em que um espaço à beira d’água seria aproveitado para novos modelos de negócio.

— As cidades precisam estar vivas — resume o economista.

Barbara Mattivy e uma amiga bolaram uma marca de sapatos a partir de tecidos de roupas buscadas em brechós. Foto: Tadeu Vilani

Fonte: Zero Hora
http://zh.clicrbs.com.br/rs/

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