Elas pediram demissão e hoje faturam mais com o perfil do gato na internet

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POR MATEUS LUIZ DE SOUZA

A sensação de desespero é a que melhor descreve o primeiro dia da nova fase da vida das publicitárias Amanda Nori, 27, e Stéfany Guimarães, 26. Tratava-se de uma mudança no mínimo inusitada: largar o emprego para viver exclusivamente da renda gerada pelo gato delas. Mais precisamente pela imagem dele.

O negócio delas é a página “Cansei de Ser Gato”, que mostra o gato Chico, 3, encarnando todo tipo de personagem: do traficante Pablo Escobar à cantora Amy Winehouse.

Amanda e Stéfany já moravam juntas em Santo André com a gata Madalena, quando trouxeram Chico, encontrado machucado e sujo, na bagagem de uma viagem ao interior de São Paulo, em setembro de 2012. Desde o início o gato era “bonzinho e fotogênico”, e Amanda publicava algumas fotos dele em seu perfil pessoal.

Em julho do ano seguinte, elas resolveram criar uma página para ele no Facebook, sem maiores pretensões. No final da tarde, a página já tinha 5.000 curtidas. No fim do mês, 20 mil. “A gente percebeu que tinha um negócio na mão”, diz Stéfany. Atualmente são 342 mil no Facebook e mais 115 mil no Instagram.

O PLANO

As jovens contam que não tinha faturado um real sequer quando resolveram pedir demissão. E essa decisão se deu principalmente para conseguir acompanhar um fenômeno típico da internet: o “timing”.

“A internet pede agilidade, presença. Se acontece algo, nós reproduzimos com o Chico instantaneamente, o que é impossível no trabalho. Não adiantava nada ter o negócio na mão, mas não conseguir executá-lo”, afirma Stéfany.

Foram quatro meses de planejamento até o primeiro dia em que se viram sozinhas com o Chico, sem chefe e sem trabalho, em novembro de 2013.

As duas donas criaram uma personalidade, meio blasé, para o gato (como é bastante comum com perfis de animais na internet). Na historinha que inventaram para ele, Chico passa por uma crise de identidade constante, transformando-se em artistas, profissionais e memes do cotidiano.

O negócio ficou mais sério quando apareceu o primeiro convite de uma empresa para usá-lo como garoto propaganda, uma agência de intercâmbio. Desde então, já foram mais de 70 campanhas para marcas, de chocolates a lojas de sapatos femininos.

“As empresas querem se comunicar de um jeito menos sério. Por isso marcas que não têm nada a ver com gatos convidam o Chico. Para elas, é bom associar-se a um gato fofo para mostrar o quão legal é o produto delas. O Chico é um influenciador da internet”, diz Stéfany.

Amanda e Stéfany estão expandindo o negócio, apesar de o maior faturamento vir de publicidade –elas não revelam o faturamento atual, mas é maior do que nos tempos de carteira assinada.

DIVERSIFICAÇÃO

Ainda em 2013, elas lançaram o livro “Cansei de Ser Gato” (editora Novo Século), com fotos do gato fantasiado e imagens de bastidores. No ano passado, abriram uma loja virtual com canecas, almofadas e capinhas para celular. Em novembro deste ano estarão disponíveis novos produtos como camiseta, calendários e mais um livro –a biografia “autorizada” “Cansei de Ser Gato: Do Capim ao Sachê”.

O conteúdo do Chico também vai se adaptando à medida que as redes sociais ganham nova configuração. Começou com o Facebook, depois veio o Instagram e, mais recentemente, o Snapchat. Vídeos de bastidores ou delas acordando o felino (“já são quase 11h, Chico, levanta”) fazem bastante sucesso por lá.

A produção também está bem mais profissional. Antes as roupas e cenários eram feitos com ajuda de amigos e as imagens, de um iPhone. Agora tem até modelistas que confeccionam roupas e câmera de alta resolução. O que continua igual são as fotos pela manhã. “O Chico está tão acostumado que já vai para o cenário se demoramos muito”, diz Stéfany.

Elas não planejam o futuro. Moram juntas e o gato é das duas, mas nunca pararam para pensar como vai ser se um dia precisarem morar separadas. E não gostam da pergunta sobre o futuro de Chico.

“Ninguém trabalha pensando ′e se meu chefe morrer?′ Eu ou a Amanda podemos morrer antes. Mas não vamos substitui-lo. Se algo acontecer, vamos fazer outra coisa nesse ramo de marketing digital. Já conhecemos bem o mercado”, conta Stéfany.

Fonte: Folha Online – 23/09/2015

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