Empresas artesanais abrem mão de crescer para controlar o negócio

DIEGO IWATA LIMA
DE SÃO PAULO – FOLHA UOL

O tom na administração é despojado e aliado a certa dose de improviso e muita colaboração. É desse modo que os empreendedores criativos querem gerir seus negócios de produção artesanal, mesmo que signifique crescer menos.

“As nossas histórias são parecidas: pessoas que entendem que podem ser seus próprios patrões e administrar do modo que escolherem”, diz o publicitário Kadu Nakashima, 29, da marca de carteiras Somos 55, um desses empreendimentos que envolvem a criatividade em seu processo de produção.

“A empresa precisa funcionar do jeito que acreditamos”, diz Nakashima.

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Os sócios Kadu Nakashima e Mauricio Makihara na loja KOF, em São Paulo, que revende as carteiras da marca Somos 55
Os sócios Kadu Nakashima e Mauricio Makihara na loja KOF, em São Paulo, que revende as carteiras da marca Somos 55

Para manter o controle total, esses grupos, formados majoritariamente por jovens, abrem mão de investimentos externos e de produção em grande escala.

Isso não significa, porém, que sejam empreendimentos sem fins lucrativos. Conseguir viver do negócio próprio é a meta destes pequenos empresários que, quase sempre, mantêm empregos em paralelo às atividades.

As carteiras da Somos 55, há um ano no mercado, são feitas com material reciclável por costureiras de uma cooperativa da favela Vila Suíça, em Santo André.

Os modelos custam de R$ 45 a R$ 48 e são disponibilizados no site e em lojas revendedoras em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Espírito Santo. A marca prevê faturar R$ 45 mil neste ano.

Fundado há dois anos, o Clube do Bordado une a tradição da costura a temáticas pouco usuais, de cinema a vinho, passando pelo erótico.

O bordado é feito em quadros para decoração e pode ter também temas sob encomenda. Custa até R$ 250.

O clube é composto por seis mulheres. Todas com outros empregos. “A gente encara o negócio quase como uma terapia de grupo, algo que queremos que cresça, mas do nosso jeito”, diz Renata Dania, 28.

Popular nas redes sociais, o clube tem uma grande clientela. Mas as sócias, por enquanto, preferem seguir num ritmo mais lento.

Elas não revelam quanto ganham atualmente, mas dizem que ficariam satisfeitas em dividir um lucro de R$ 18 mil por mês.

“Já pensamos em procurar um investidor, mas aí teríamos metas a cumprir e perderíamos nossa autonomia”, diz Marina Dini, 28.

Adriano Vizoni – 15.ago.2015/Folhapress
Trabalho do Clube do Bordado, em São Paulo
Trabalho do Clube do Bordado, em São Paulo

Parte da estratégia desses grupos é participar de eventos com outros pequenos produtores. Como a Fêra Féra, que une barracas de venda de peças de vestuário, de comida e música no bairro do Sumaré, em São Paulo.

“A colaboração entre os participantes é constante. Há sempre alguém que empresta uma mesa, ou a máquina de cartão. Nossa proposta é a interação entre pessoas e espaço”, diz o curador Renato Tizzi, 27, que, assim como os artesãos, organiza a feira como atividade paralela.

FORMALIZAÇÃO

Focados na parte criativa do trabalho, os jovens empresários têm pouca familiaridade com os termos burocráticos do negócio.

As seis mulheres do Clube do Bordado tiveram de aprender cálculos sobre precificação e expectativa de ganhos somente para entender em que categoria de empresa elas se encaixavam.

Um MEI (microempreendedor individual) tem faturamento anual de até R$ 60 mil. Já a ME (microempresa) fatura até R$ 360 mil por ano.

“Eram muitas perguntas e cálculos sobre algo que a gente ainda não tinha ideia. O que a gente gosta é de bordar. Não foi fácil”, diz Laís Souza, 28, uma das bordadeiras.

Ana Clévia Guerreiro, do Sebrae, admite que ser empreendedor não é simples.

“Mas formalizar uma empresa é o menor dos problemas e traz vários benefícios”, diz. “A hora de fazer as contas sempre chega. E é melhor fazê-las logo no início”.

Segundo estudo do Sebrae, microempreendedores formalizados ganham, em média, três vezes mais do que aqueles que não têm CNPJ.

O instituto afirma que a formalidade passa segurança ao consumidor e abre mercado com as grandes empresas, que só aceitam fornecedores com nota fiscal.

“Para nós, o CNPJ foi fundamental para fecharmos parcerias e prestar serviços. Como vão te pagar se você não existe como empresa?”, diz Nakashima, da Somos 55.

Vejo os passos a seguir antes de começar um empreendimento:

Registro
Mesmo os negócios pequenos precisam de CNPJ. Registrá-lo deve ser o primeiro passo, antes de qualquer venda.

Viabilidade
Pergunte-se: o produto ou serviço que quero vender não existe porque ninguém fez ou por não ser possível fazer?

Pesquisa
Produtos artesanais também sofrem com concorrência. Estude bem o que a competição oferece.

Preparação
A produção menor significa um tempo maior até obter lucro. Calcule a estimativa de ganho e tenha uma reserva para arcar com as despesas da empresa.

Trabalho
Mercadorias artesanais exigem ainda mais tempo de dedicação para dar certo. Você deve estar disposto a abrir mão de outras atividades para investir no negócio.

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