No Recife, presidente do Todos pela Educação defende reforma educacional

Por: Anamaria Nascimento Publicado em: 03/10/2019 em https://www.diariodepernambuco.com.br/

Foto: Bruna Costa/Esp.DP.
Foto: Bruna Costa/Esp.DP.

No Recife para participar de um debate sobre educação no festival Rec’n’Play, que aconteceu até este sábado (5 out) no Bairro do Recife, a presidente-executiva do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, defendeu a reforma educacional. “O Brasil faz reformas econômicas, pevidenciária, tributária, de estado, mas nunca fizemos uma reforma da educação. Defendo a educação pública e a reforma da educação pública”, afirmou, no evento que aconteceu na sede do Porto Digital.

À frente do principal movimento da sociedade brasileira em prol da educação, Priscila falou ainda sobre valorização e investimento nas pessoas como meios para gerar crescimento no país. “Se o Brasil subisse cem pontos no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), teríamos um crescimento de dois pontos percentuais por ano no PIB. Quer investimento econômico melhor do que esse? É preciso investir nas pessoas para que o país avance”, afirmou.

Fundado em 2016, o Todos pela Educação é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com o objetivo de melhorar o Brasil, impulsionando a qualidade e a equidade da educação básica no país. Com uma atuação focada em contribuir para o avanço das políticas públicas educacionais, o movimento promove a articulação de diversos atores da sociedade civil, governo e setor privado.

O secretário de Educação e Esportes de Pernambuco, Fred Amancio, também participou do debate e ressaltou que nenhum país com bons índices econômicos cresceu sem investir em educação. “Os países mais desenvolvidos do mundo são os mesmos que estão bem colocados no Pisa. Isso não é coincidência. Em todos, a educação é uma prioridade”, pontuou.

Foto: Bruna Costa/Esp.DP.
Foto: Bruna Costa/Esp.DP.

Confira os principais pontos defendidos por Priscila Cruz, que é formada em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em direito pela Universidade de São Paulo (USP), no evento:


Reforma na educação
“O Brasil se recusa a investir nas pessoas. O Brasil acha que a gente vai fazer uma série de reformas e vai dar certo. O país vem fazendo isso há décadas. Já vi várias reformas econômicas. O Brasil continua com esses voos de galinha e nunca fizemos a reforma da educação pública. Nunca fizemos aquela que é a verdadeira reforma para fazer o Brasil crescer, distribuir renda, dar oportunidades a todos. A gente nunca foi por esse caminho. Não vou dizer que as reformas econômicas, de estado não são importantes, mas a gente foge de investir nas pessoas. Por que a gente insiste em não colocar em nosso projeto de país e dar centralidade para a educação. É confiar que serão os brasileiros que vão fazer um país melhor.”

Retorno econômico
“Se Brasil subisse 100 pontos no Pisa, aquela prova internacional que a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) faz a cada três anos, passando um pouco do Chile, a gente teria um crescimento no nosso PIB de dois pontos percentuais por ano. Quer investimento econômico melhor do que esse? Por meio do Pisa, a gente tem uma comparação de como está o Brasil diante do mundo, e o Brasil está nas últimas posições de 78 países. E a gente continua achando que o Brasil vai crescer e distribuir renda sem investir nas pessoas.”

Valorização dos professores

“A gente também não investe na pessoa que representa a educação, que é o professor. É o erro dentro do erro. A gente não investe nas pessoas e não prioriza a educação. E dentro da educação, a gente não prioriza o professor e tem uma dificuldade enorme em progredir com políticas para melhorar a formação inicial e a formação continuada, além de carreira, condições de trabalho e remuneração desses professores. Não temos conseguido elevar o patamar das políticas docentes. Uma das nossas grandes batalhas no Todos pela Educação tem sido a formação do professor. Muitos professores estão sendo formados 100% a distância e depois vão para as redes dar aula, sem ter feito estágio, sem ter feito a articulação entre teoria e prática. Muito por conta de uma indústria de formação de professores, pessoas são enganadas com uma formação de baixa qualidade. A gente substima a atividade docente. Precisamos de profissionalização. Se educação é a área que mais impacta a nossa vida e o país, o mais importante e mais determinante dentro da educação é o professor.”

Escolas cívico-militares 
“Tempo de gestão e dinheiro público são sagrados. Um gestor sabe que o tempo é curto para fazer mudanças. Qualquer desvio de rota daquilo que pode dar resultados é uma enganação. Temos que fazer uma diferenciação entre escola militar e escola cívico-militar. Escola militar é para filhos de militares. Nas vagas remanescentes, há uma prova, um concurso, para entrar. O custo por aluno é três vezes maior do que em uma escola de tempo integral de Pernambuco, então você tem uma situação completamente diferente. As escolas cívico-militares pegam três militares e colocam nas escolas, ou seja, você não está nem pegando aquilo que seria ótimo ter, como um investimento três vezes maior por aluno, qualificação da gestão, melhor infraestrutura. Ter três militares disciplinando é um erro completamente absurdo de alguns estados entrarem e até estimularem isso. Isso é uma plataforma eleitoral. É jogar para a torcida e enganar o povo brasileiro dizendo que o problema é a indisciplina. Mais uma vez, joga para o outro a responsabilidade ao dizer que o problema da escola é a indisciplina, é o aluno. Quando vemos todas as boas experiências educacionais no Brasil, vemos que escolas bem geridas e com professores bem formados, você tem disciplina. Sabemos que disciplina é importante. Ninguém quer nem vai aprender na bagunça, mas é a disciplina que é proveniente de uma boa gestão, de professores bem formados, que sabem engajar os alunos. Isso (investir em escolas cívico-militares) é uma enganação e é uma pena que alguns estados estão entrando nessa.”

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