Porto Digital deve contratar 3 mil pessoas em 2020, diz presidente

Por: Luciana Morosini / Diário de Pernambuco  Publicado em: 11/01/2020 

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Nosso principal problema hoje é a mão de obra, afirma o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena (Foto: Bruna Costa/Esp. DP Foto )

Se 2019 fechou com saldo positivo para o Porto Digital, com crescimento no número de empregos e no faturamento das empresas, a expectativa é que 2020 seja ainda melhor. A previsão é que as empresas embarcadas no parque tecnológico contratem cerca de três mil pessoas ao longo do ano. Como a mão de obra ainda tem sido uma barreira para que todas as vagas ofertadas sejam preenchidas, as parcerias para o âmbito da formação na área de tecnologia não apenas serão mantidas como também ampliadas. No foco, estão as instituições privadas, mas a atenção também se volta para as públicas. Novos cursos estão no radar, assim como iniciativas que pretendem promover o interesse e a formação de novos profissionais.

A estimativa de expansão também alcança as empresas. As que já estão embarcadas no Porto Digital devem crescer e novos empreendimentos devem aportar neste ano no parque tecnológico. Como o Bairro do Recife tem a limitação geográfica, um projeto para expandir a atuação do centro de tecnologia para bairros além da ponte, como o de Santo Antônio, será apresentado para tentar sair do papel. Ampliação, não na questão geográfica, que deve também atingir o festival Rec’n’Play. A edição deste ano promete ser maior e vai abranger novas áreas, como a de empreendedorismo e negócios. Um ano importante ainda por conta da entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Se por um lado as empresas precisam se adequar às novas regras, por outro o Porto Digital pode se beneficiar com as soluções que existem nas empresas locais. Questões abordadas por Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, nesta entrevista.

Balanço 
Estamos fechando os dados que as empresas encaminharam e previamente sabemos que teve um crescimento significativo das que estavam aqui e também das que estão chegando. Houve incremento no número de funcionários, com mais cerca de 2 mil pessoas que entraram em 2019, e no faturamento também. Para 2020, há indicativo que as empresas pretendem contratar mais 3 mil pessoas. Outro ponto é que conseguimos colocar 99 novos negócios no ar dentro da Jump, passando de 25 para 99 na nossa incubadora. Isso é muito significativo. Queremos fazer mais neste ano, mas dependemos de recursos. Quem ajudou muito em 2019 foi o Sebrae, a ida de (Francisco) Saboya (ex-presidente do Porto Digital) para lá nos ajudou bastante porque ele já conhece. Para 2020 estamos buscando parcerias. Mandamos projeto para AD Diper, que acho que vai sair, de apoio ao empreendedorismo, além de acordo com BNB, que deve ser lançado nesses dois primeiros meses do ano. Os projetos são para ampliar a Jump e contratar mentores para que os projetos de lá tracionem mais. Também vamos expandir com as empresas. A Creditas vai ter uma base aqui, a Stefanini deve expandir também. Ainda estamos esperando que a Ambev abra um ponto de inovação aqui e vamos ampliar a captura de outras empresas para virem para cá.

Ampliação
Estou há um ano no Porto Digital, abrimos a área de pessoas e começamos a fazer três grandes coisas, a central de pessoas, diversidade e formação. A primeira é a parte de central de pessoas, que, através dela, a gente fez um chamamento de currículos, em um evento chamado Empregaço, ofertando mais de 200 vagas. A primeira coisa que vimos é que, na prática, a grande maioria das pessoas do Recife está empregada, não tem mais gente qualificada no nível que as empresas estão exigindo sobrando no mercado. Então vamos partir para outras cidades para buscar gente para trabalhar aqui e vamos fazer mais duas edições do evento em João Pessoa e em Aracaju no primeiro semestre. A segunda parte é da diversidade. Além do Programa Minas voltado para mulheres, temos o Porto Mais, com foco no público LGBT. O desafio agora é transformar essas ações e empregar mais mulheres e a população LGBT.

Formação
Outra questão é da formação, que é o grande gargalo de qualquer centro que tem grande produtividade de solução de software. Fechamos parcerias com a Unit, Fundação Dom Cabral e Unicap. Com a Unit já temos turma rodando e vamos ampliar com mais cursos, vamos lançar para esse primeiro semestre o curso de Engenharia de Software e vamos abrir um laboratório de inovação da Unit de resolução de problemas das empresas. Hoje, se você tem mão de obra disponível, você vai ter negócios. A gente não precisa de muita coisa para fazer isso, mas precisa de ajuda. Se a gente tiver R$ 30 milhões por ano hoje, a gente fica do tamanho de São Paulo no número de formandos na área de tecnologia. Hoje, o Recife já é o primeiro lugar do Brasil em números de pessoas per capita estudando tecnologia, à frente de São Paulo e Rio, porque a população é proporcionalmente menor.

Mão de obra

Nosso principal problema hoje é a mão de obra, é algo que a gente precisa tratar agora. Precisa disso, inclusive, para expandir mais. Estamos fazendo parcerias do jeito que a gente pode, com o setor privado. Mas tecnologia não pode ser um programa voltado para a classe média e classe média alta, a gente tem que incluir as classes C, D e E, que tem muita gente talentosa e que, muitas vezes, não consegue passar na universidade pública porque a nota é muito alta. Mas ele tem uma excelente nota no Enem, um excelente desempenho. Só para ter ideia, às vezes ele tira uma nota 740 pontos, mesmo sendo cotista não passa no centro de informática da Federal e ele não vai para uma instituição privada porque não tem dinheiro para pagar. A UPE ainda não tem curso de Ciência da Computação, por exemplo. Então a gente precisa da ajuda do poder público não é para dar dinheiro para o Porto Digital, mas para educar as pessoas, ajudar a formar gente aqui. A gente não pode viver das parcerias com o setor privado, a gente precisa ampliar isso para incluir mais gente.

Centro
Ainda tem espaço para crescer aqui dentro do Bairro do Recife, alguns prédios precisam ser potencializados, como o da Votorantim, o do Moinho. Mas vou apresentar um projeto para o prefeito para o bairro de Santo Antônio e a ideia é fazer um projeto que una o Marco Zero até a Conde da Boa Vista, vamos ver se ele aceita. A ideia é fazer o bairro de moradia e de escritórios. Os bairros de Santo Antônio e Santo Amaro já estão dentro da política de incentivo fiscal, não precisa mudar a lei. Precisa mudar o Centro e precisa do poder público para isso. Vai precisar de uma articulação que o Porto Digital se propõe a fazer e vai precisar de uma organização pública, é um projeto grande e a longo prazo. Temos todo interesse de ir para lá, mas se não houver retorno, vamos esquecer o bairro de Santo Antônio e continuar aqui.

Bairro do Recife
O Bairro do Recife está passando por uma transformação grande, está passando por uma mudança significativa e positiva, houve fechamento de ruas e prioridade para os pedestres, embutimento de fios, estamos muito otimistas com o bairro. Já começaram as obras do Moinho, é um bairro que tem muito potencial.

Ele está mais vivo, está crescendo o número de empresas, a abertura da Livraria Jaqueira deu uma revitalizada também. A gente queria que o Centro fosse local de moradia dos trabalhadores do Porto Digital, isso dinamizaria, daria mais vitalidade ao Centro. Mas o Bairro do Recife tem um problema porque os prédios são muito caros para revitalizar, então quando o prédio está muito destruído, ele deixa de ter viabilidade econômica. A não ser que tenha subvenção, mas como nãotem mais dinheiro do governo, agora ofocoé veroquetemde disponibilidade para ver o que pode ser feito para esse projeto de restauração. A chegada do Moinho vaidar uma aquecida no bairro e vai facilitar para moradia também. Detoda forma, já temos o projeto de um coliving no bairro, o investidor está analisando e fazendo a conta para ver se vai sair. Mas o bairro de Santo Antônio tem a vantagem porque os prédios já estão inteiros, não tem restauro, o que ajuda bastante, e são mais baratos, então tem viabilidade econômica. Mas precisa de um projeto.

Rec’n’play Grande objetivo é criar imaginário pró-tecnologia na cidade, fazer com que o jovem do ensino médio olhe e queira seguir a carreira nisso. A edição de 2019 conseguiu furar a bolha que tinha das mesmas pessoas que gostavam de tecnologia, agora veio mais gente. Esse ano a gente espera fazer um Rec’n’Play ainda maior, com mais discussão de tecnologia. Eagente quer fazer evento de business para que as empresas daqui consigam mostrar para empresários de fora o que é feito aqui. Vai ser o primeiro ano e estamos vendo onde vamos fazer porque isso não é fácil, mas tem o estacionamento do Paço Alfândega, do Moinho, estamos vendo alguns lugares ou podemos fazer espalhado mesmo em alguns lugares. Uma questão fundamental daqui é que os espaços são pequenos e isso não vamos conseguir mudar. Estamos preocupados do Rec’n’Play cresça para consolidar o Porto Digital junto à cidade do Recife, essa galera mais nova ver no imaginário a possibilidade de vir para cá, mas precisamos expandir para essa área de negócios para em outro momento sair do Recife.

Hub
Temos um prédio qualificado na Rua da Moeda e temos três opções para ele. A primeira é alugar para alguma empresa daqui. A segunda seria fazer um coworking no local, estamos vendo a viabilidade disso. E a terceira é fazer algum hub de inovação com algum banco ou alguma empresa que tivesse interesse de chegar no Porto Digital para fazer negócios, que ajudaria as empresas locais aqui, é um espaço qualificado para isso. Seria algo como um Inovabra ou um Cubo.

LGPD
Todo mundo está achando que vai adiar o início da Lei Geral da Proteção de Dados, mas uma hora vai chegar. Independentemente se vão adiar ou não, a questão é queo problema de dados é um problema de engenharia de software, não é um problema legal apenas. Porque estamos vendo uma ofensiva dos escritórios de advocacia que estão vendo nisso uma oportunidade de negócios com as empresas. Mas esse é um problema, antes de tudo, de engenharia de software. Então a primeira coisa que tem que tratar é ter uma política de dados correta, com segurança correta. Toda semana bate um empresário aqui perguntando o que deve fazer porque o escritório de advocacia está oferecendo um serviço, mas antes disso eu falo para procurar a Tempest, que é pernambucana e a principal empresa de ciber segurança da América Latina, para cuidar dos dados. Depois que os dados estiverem bem guardados, aí o escritório de advocacia vai tratar de possíveis problemas futuros. Agora a expectativa é que muita gente está é que vai adiar até porque o próprio governo não consegue guardar seus dados, há um ajuste que precisa ser feito.

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