Chegou a Era da Economia com base Criativa – por Kim Kristtal Schenini

Publicado em https://medium.com/capital-catarina – 18 janeiro 2021

Kim Kristtal Schenini – Empreendedora, produtora, diretora, palestrante, especialista em Marketing e Multimídia. Head de Operações Chaplin Startups.

De tantos aprendizados que 2020 — um ano verdadeiramente atípico — trouxe para o mercado, o mais significativo foi a necessidade de romper as barreiras dos mais tradicionalistas enquanto modelos de negócio, investimento e criatividade.

Lançamentos de filmes 100% digitais, streaming gerando impacto mundial, games multiplicando seus rendimentos, plataformas, novos produtos e serviços que entretém, criam empregos e movimentam a economia. 2020 trouxe à tona o mundo “escondido” da Economia Criativa, um mundo esquecido que transforma ideias em negócios altamente lucrativos. Mas se engana quem pensa que tudo é efeito da quarentena e de um ano repleto de restrições externas.
Não é de hoje que empresas como Tik Tok, WildLife e Enjoei existem, mas elas são exemplos que explodiram nos últimos anos.

Contextualizando:

Tik Tok (2016), aplicativo chinês mais baixado na quarentena, forçou o gigante Grupo Facebook a atualizar o uso do aplicativo Instagram para aderir ao comportamento dos usuários no app oriental e é produto da startup mais valiosa do mundo (US$ 100BI)¹;

WildLife Studios (2011), empresa brasileira de games para smartphones que no final de 2019 se tornou a 11ª unicórnio brasileira, sendo a primeira empresa da indústria criativa a ser avaliada em mais de US$ 1BI, hoje, avaliada em US$ 3BI;

E Enjoei (2009), o site-brechó que estreou na B3 com um valor de R$ 2BI no mercado³ em novembro de 2020. Enjoei diz que veio transformar — e transformou — o consumo de moda no Brasil.

Live com toque de campainha do pregão marcou a oferta pública da Enjoei (créditos: Cauê Diniz)

Ok, isso tudo é muito legal! Saber que temos uma unicórnio brasileira representando a E.C., que empresas do setor estão ingressando positivamente na bolsa de valores, mas o que aconteceu para que isso fosse possível, e ainda, como podemos ter cada vez mais empresas de destaque no mercado?

Investimento e desenvolvimento

Não podemos generalizar, mas 2020 trouxe algo nunca visto: convergência do comportamento de consumo + abertura a novas possibilidades para alavancar a economia + maturidade + tecnologia acessível!
Digamos que a necessidade impulsionou a tecnologia, que deu espaço para negócios maduros se tornarem ainda mais rentáveis, fazendo a economia criativa ganhar destaque e alterando totalmente o comportamento dos consumidores — e vice-versa!
Por muito tempo, viu-se a Economia Criativa como algo apenas lúdico: dos sonhadores sem rumo. Aquele amigo fotógrafo que “faz uns bicos”, a prima designer que “não para num emprego”, e a banda que não sai da garagem. Isso tudo é tão ultrapassado que ficou para trás junto com o pensamento de que criatividade é insight e sorte.
A realidade se mostra em décadas de trabalho e busca criativa por alternativas de investimento que trouxeram maturidade e resiliência para esses tais empreendedores criativos. Talvez alguns deles nem saibam que fazem parte da Indústria que alia potencial humano com estratégias inteligentes e escaláveis.
Como em qualquer empresa, seja de terceiros ou do próprio empreendedor, o investimento financeiro tem papel importante — principalmente no momento de tração. Porém, somente o dinheiro não garante a sustentabilidade de uma empresa. É preciso atentar-se à maturidade desses negócios! Governança, gestão de portfólio, retenção de talentos e uso efetivo de metodologias ágeis — legado das empresas de tecnologia — são pontos chave para o crescimento exponencial de um negócio criativo. E aí sim, o desenvolvimento aliado a aportes relevantes de investimento têm como resultado empresas de destaque num mercado nacional/global com entrega de valor, propósito e rendimentos aos envolvidos.
E quando falamos em maturidade, de forma alguma nos atemos somente aos negócios. É crucial a atenção à maturidade do mercado em enxergar o potencial econômico e escalável que a criatividade traz.

Fechando a conta dentro de casa

Outro legado de um 2020 economicamente impetuoso, foi o aumento do interesse do brasileiro por investimentos. Algo que reflete também nas corporações que, ao perceberem o potencial de artistas e criativos na influência de compra e no comportamento do consumidor, redirecionaram orçamento de Marketing e Inovação para lives, projetos e programas de aceleração interno.
Porém, a iniciativa mostra o quanto precisamos avançar na consciência de investimentos com retorno a longo prazo, considerando também ganhos estratégicos de posicionamento inovador tanto no setor criativo quanto em outros setores tradicionais, em que o foco no consumidor vem ganhando cada vez mais força. É preciso reconhecer tais ganhos como parte relevante do retorno de investimento.

Games da WildLife Studios somam mais de 2 bilhões de downloads globais (Imagem: Twitter)

Obviamente brilham os olhos ao vermos o caso da WildLife, primeira empresa de Games a se tornar uma unicórnio brasileira. Mas quanto desse retorno, de fato, voltará para “casa”? O marco atingido pela empresa, com total mérito e reconhecimento, deu-se ao receber uma rodada de aporte de US$ 60 milhões liderada pelo fundo americano Benchmark Capital (investidor de Uber, Twitter e Snapchat). E em 2020, captou US$ 120 milhões em rodada de investimento liderada pelo fundo Vulcan Capital, do cofundador da Microsoft Paul Allen, avaliando a empresa em 3 bilhões de dólares. Então vem comigo: colocando no papel, no fim do dia, o retorno sobre o investimento rompe as fronteiras brasileiras e vai alimentar a economia de uma grande potência.
A questão não é o recebimento de investimento estrangeiro, mas sim a falta de visão de oportunidade em investimento na economia criativa dentro do Brasil. Nosso mercado carece de propostas que enxerguem o potencial econômico e revolucionário dessa indústria. E nesse processo, é necessário uma reeducação tanto de quem investe quanto de quem recebe investimento. Empresários e empreendedores conectados a investidores e corporações dispostas a crescer juntos.
E não nos basta a teoria, é preciso agir. Por isso, não poderíamos deixar para outro momento a criação da Chaplin Startups, aceleradora e fundo de investimentos com foco no desenvolvimento e na escalabilidade de negócios criativos. A Chaplin nasce a partir dos aprendizados de conectividade digital que 2020 deixou, e liga a cidade criativa, Florianópolis, com a cidade dos negócios, São Paulo, para impactar a economia brasileira.
Quando falamos em romper as barreiras tradicionais do mercado de investimentos, estamos trazendo à tona a necessidade em diversificar os investimentos em negócios com alto potencial econômico, porém com entrega de valor e propósito.

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